Esta é uma história fictícia de um menino chamado João, que nasceu na Ilha de Santa Maria e sonhava ser astronauta.

A história tem dois finais possíveis: um onde o projecto da base de lançamentos de microlançadores não é construída e outro onde este projecto é realizado. Com estes dois cenários pretende-se mostrar o potencial de criação de emprego qualificado a longo prazo nos Açores.


O João era um menino muito curioso. Todas as noites olhava para o lindo céu visto da sua pequena Ilha de Santa Maria e imaginava como seria ser um astronauta a viver no espaço e viajar entre os planetas. Cedo demonstrou que tinha muito gosto pelas ciências e grande aptidão para a matemática. Com os olhos no seu grande objectivo de ser astronauta, o João estudava com muito gosto e aplicava-se para ter muito boas notas.

O João cresceu, fez o secundário com as melhores notas da sua escola e candidatou-se ao curso de Engenharia Aeroespacial, no Instituto Superior Técnico em Lisboa, para aprender como funcionam os foguetões que levam os astronautas ao espaço. Durante este curso descobriu uma nova paixão: sistemas avançados de propulsão de foguetões! Talvez um dia o João conseguisse construir finalmente um foguetão que o levaria a viajar entre os planetas.

O tempo foi passando e o João terminou o seu curso de Engenharia com uma das melhores notas do seu ano. Agora teria de encontrar um trabalho que o permitisse continuar a estudar e a desenvolver novos sistemas de propulsão. Acabou por concorrer a uma vaga na empresa italiana Avio, que desenvolve os foguetões europeus Vega.

Tinha realizado um dos seus sonhos: trabalhar na construção de motores para foguetões.

10 anos passaram…

O João tem agora 35 anos e é um dos engenheiros responsáveis pela fabricação dos novos motores para o Vega-C.


Chegou a altura de escolher o final desta história:


Ir para o final sem a construção da Base de Microlançadores

Ir para o final com a construção de Base de Microlançadores























Final Sem a construção da Base em Santa Maria

O João encontrou uma namorada que se tornou a sua mulher e teve 2 filhos que queriam seguir as pegadas do pai e serem engenheiros aeroespaciais. O João continua a viver em Itália e apenas visita os Açores para passar férias de Verão com a família.

Neste cenário não existe criação de emprego qualificado. O nosso João está a trabalhar fora do país e apenas nas férias existe algum retorno financeiro para a economia da ilha. Este é também o destino mais provável de 90% dos nossos engenheiros, que após concluir os estudos vão trabalhar para o estrangeiro.

























Final com a construção da Base de Santa Maria

O João é agora uma das pessoas com melhores conhecimentos europeus a nível de tecnologias avançadas de propulsão. Recentemente soube que a Universidade de Évora estava a desenvolver um novo projecto para a construção de um microlançador português que será lançado da base de Santa Maria. Com os seus conhecimentos técnicos sobre propulsão avançada de foguetões, o João decide juntar-se a este projecto português e regressa a Portugal.

Mais três anos passaram. O foguetão português está agora concluído e vai efectuar o lançamento de estreia na recém criada base de lançamentos de Santa Maria. O João passa cada vez mais tempo em Santa Maria para finalizar os preparativos do lançamento.

No dia do lançamento de estreia, o foguetão português é um sucesso e recebe um investimento internacional para fabricação de dezenas de foguetões iguais ao que ajudou a construir. É criada uma nova empresa em Santa Maria spinoff do projecto desenvolvido pela Universidade de Évora.

O nosso engenheiro passa agora a viver em permanência de volta à sua ilha do coração, a liderar uma equipa de 10 novos engenheiros que também se mudaram para esta pequena Ilha dos Açores. Aqui vai conhecer também a sua futura esposa com a qual casa e tem dois filhos, que querem também eles seguir as pisadas do pai e serem engenheiros aeroespaciais.

Mais 5 anos passaram. A empresa aeroespacial em Santa Maria tornou-se um sucesso empresarial e emprega já 30 pessoas de diferentes áreas de especialidade.

O João decide que tem o dever de contribuir mais para o sistema de educação dos Açores. Começa a colaborar com a Universidade dos Açores e a coordenar o novo curso de Engenharia Aeroespacial. Agora os filhos do João quando crescerem, e que querem seguir Engenharia Aeroespacial, podem continuar a viver nos Açores e não têm de ir estudar para o continente.

Os primeiros graduados terminam o curso após 5 anos e os Açores têm agora 20 novos engenheiros Aeroespaciais, prontos a se iniciar no mercado de trabalho. Uns irão trabalhar para fora, outros ficarão a trabalhar nas empresas aeroespaciais da ilha e outros ainda serão empreendedores e formarão novas empresas.

Todo um novo ecosistema empresarial de trabalho altamente qualificado que só poderá ser uma realidade se houver a construção da Base de microlançadores em Santa Maria, nos Açores.

Conclusão

O final feliz desta história pode até ser uma visão algo optimista. Mas se a base não for construída, não há mesmo nenhuma hipótese de que até uma pequena parte se realize. E nesse cenário toda a situação actual se mantém e os nossos engenheiros portugueses não têm outra alternativa melhor se não emigrar e trabalhar no estrangeiro.

Vasco Pinheiro

Fundador do Clube Espacial Português

Leave a Comment