Engenheiro Ricardo Conde, Edisoft

 

Desde 2007 que a Ilha de Santa Maria, nos Açores, colocou Portugal no mapa dos grandes países europeus no contexto espacial. Hoje existe já uma importantíssima infraestrutura operada pela Edisoft que actua não só na monitorização de toda a área marítima do Atlântico Norte, bem como no crucial rastreio dos lançamentos dos foguetões da Agência Espacial Europeia (ESA). A convite da Casa dos Açores em Lisboa, o Engenheiro Ricardo Conde da Edisoft apresentou o panorama actual dos Açores no sector espacial, bem como as grandes perspectivas futuras que poderão catapultar os Açores como o futuro porto europeu de acesso económico ao espaço.

As Estações de Santa Maria

Na complexo de instalações que é operado pela Edisoft em Santa Maria, existem actualmente diversos equipamentos com missões estratégicas no âmbito europeu.

 

Estação de Rastreamento de foguetões, em Santa Maria, Açores

Aqui encontra-se a Estação de Rastreamento que faz o seguimento dos lançadores da Arianespace para a ESA. Tem como missão a recepção da telemetria durante a fase inicial do voo e funcionar como o espelho do Centro de Control da Guiana francesa. Esta estação está preparada para acompanhar os foguetões Vega e Ariane-5 e no futuro estará também preparada para o Ariane-6 logo que comece a voar.

Existe também uma equipa que é responsável pela Monitorização do Atlântico Norte utilizando sistemas dotados de informação recolhida por satélite, para detectar derrames de hidrocarbonetos. Esta acção de monitorização serve para agir rapidamente em caso de emergência, reduzindo o impacto de um acidente ambiental e também serve como dissuasor para evitar que as entidades que operem embarcações de transporte de hidrocarbonetos façam poluição do atlântico norte.

Em Santa Maria está instalada uma Galileo Sensor Station, estação que recebe os sinais dos satélites da constelação Galileo, para verificar a integridade do sinal e eventuais desvios de órbita, de forma a se poder efectuar correcções e manter a constelação perfeitamente operacional.

Existe ainda uma estação do sistema VLBI da rede mundial de interferometria geodésica, para estudo dos movimentos das placas tectónicas. Esta estação em sincronismo com outras estações, fazem medições de alta precisão, para registar com precisão de 1 mm as deslocações das placas. Para complementar a estação VLBI em Santa Maria existirá no futuro também uma estação na Ilha das Flores.

Expansão da estação Edisoft nos Açores

Estão já a decorrer diversos projectos de expansão das infraestruturas da Edisoft nos Açores. Estas novas instalações visam aumentar a capacidade de serviços e sistemas operados pela Edisoft no âmbito dos projectos para a Agência Espacial Europeia e outros programas Europeus na área do Espaço bem como recolha de informação metereológica

Um desses projectos é a instalação de uma antena de 15 metros de diâmetro da ESA que se encontrava anteriormente na estação de Perth na Austrália e foi já transferida para Santa Maria. Esta antena tem performances impressionantes que vão permitir com que Portugal em 2019 passe a estar associado a missões de Medium Deep Space, nas quais se encontra a missão para estudar a calote solar. Em que a estação será responsável por parte das comunicações (recolha e transmissão de dados) e orientação dos veículos espaciais durante aproximadamente 12 horas por dia. A construção dos edifícios e base da antena vão iniciar em Fevereiro de 2018 sendo que a estação estará operacional em 2019.

Outro projecto que ser iniciado será a instalação de uma nova antena de meteorologia por satélite, para fornecer melhores informações climatéricas para a rede europeia EUMETSAT em 2019, que irá ser colocada nos Açores devido à sua centralidade única.

O novo paradigma de acesso ao Espaço

Actualmente existe uma corrida ao acesso ao espaço para colocar satélites de menor dimensão em larga escala e formar constelações de satélites em órbita baixa, para fornecer serviços de comunicações à aviação e cobertura global de Internet. Exemplos dessas constelações são a Oneweb que pretende operar 900 satélites, a Viasat com 400 satélites e mesmo a SpaceX pretende operar a sua própria constelação Starlink que terá 4,425 satélites.

Os Açores aparecem nessa corrida como um dos potenciais candidatos com uma das localizações geográficas privilegiadas para a instalação de lançadores verticais de baixo custo de acesso ao espaço, capaz de colocar em órbita essas constelações de satélites. Esta estruturas seriam revolucionárias não só em termos de impacto económico para os Açores e para Portugal, mas também em termos de impacto tecnológico e científico criando diversas sinergias de empresas e instituições de ensino nacionais, com todo o mercado internacional do sector espacial.

Várias empresas de renome internacional tem interesse de dotar a Europa de um porto espacial em território europeu, em Portugal através dos Açores. Será tomada uma decisão sobre a localização deste porto espacial em 2019 para o lançamento em 2020 das constelações.

Outras infraestruturas com potencial interesse

Durante o programa espacial americano Space Shuttle, o Aeroporto de Santa Maria terá servido como pista suplente no evento de uma emergência do vaivém espacial. Este aeroporto que tem uma das maiores pistas de aterragem, poderá a curto prazo ser dinamizado com novos projectos de missões espaciais.

Lançador Pegasus, Orbital ATK

Estão em curso estudos por parte da Airbus para utilizar o método de lançamento horizontal, já utilizado pela Orbital ATK com o lançador Pegasus em que um avião transporta no seu exterior um foguete e após o avião atingir a altitude e trajectória pretendida, o foguete liberta-se do avião e inicia o seu motor que o irá propulsionar até à órbita pretendida no espaço.

 

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